'Estado' teve noticiário sobre o Chile censurado
Liz Batista
01/09/2013 | 10h04   
Em 1973, entrevista com viúva de Allende e atentado contra a LanChile no Rio foram censurados
A censura imposta pelo regime militar brasileiro ao Estado deixou marcas no noticiário sobre o Chile em 1973. Em julho, reportagens críticas ao governo do presidente socialista Salvador Allende eram publicadas sem cortes. Em setembro, porém, declarações sobre a censura imposta pela junta chilena eram vetadas. É o caso da entrevista realizada, dias após o golpe, com Hortensia Allende, a viúva de Salvador Allende.
A entrevista foi publicada em 18 de setembro de 1973, mas não integralmente. Entre as declarações cortadas está a parte em que ela fala sobre a existência de apenas “dois jornais, uma emissora de televisão e uma rede de rádio controlada pelas Forças Armadas” no Chile, já comandado pelo general Augusto Pinochet, e outra em que pede a solidariedade de “todo o mundo”.
A censura brasileira manteve-se atenta às notícias sobre o Chile, revelando um cuidado especial com qualquer menção feita à atuação de agentes de segurança brasileiros no país logo após o golpe. Em 29 de setembro de 1973, a informação sobre a existência de pelo menos 50 brasileiros entre as 5 mil pessoas detidas pelos militares chilenos no Estádio Nacional, em Santiago, foi cortada da edição final, juntamente com um trecho que revelava o grau de participação do Brasil no golpe: “Fontes diplomáticas disseram que muitos brasileiros que constavam da lista de presos, desapareceram do estádio, sem que autoridades militares saibam explicar a razão. As mesmas fontes temiam pela sorte de sete brasileiros implicados no sequestro do embaixador da Suiça (sic)no Brasil. Acrescentaram que membros da polícia política do Brasil chegaram a Santiago há alguns dias e que se mostraram muito ativos.”
Outro corte que chama a atenção é uma chamada de capa sobre o atentado a bomba contra a companhia aérea LanChile, que seria publicada em 2 de outubro, mas foi derrubada pela censura e substituida pelo poema Boca de Forno, de Manuel Bandeira. A reportagem que trazia detalhes sobre a explosão que feriu “15 pessoas” e “causou grande tumulto” no centro do Rio também foi suprimida. Versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões, foram publicados em seu lugar. A publicação de poemas, foi o recurso encontrado pelo Estadopara apontar aos leitores as arbitrariedades cometidas pela censura. veja
Comentários
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
- Máx.
- Mín.
- Máx.
- Mín.