Arrocho: estopim das greves de 1917 e 1978

Carlos Eduardo Entini

24/09/2012 | 20h32   

Principais movimentos grevistas foram espontâneos e durante períodos de repressão

Nada de comunismo ou socialização dos meios de produção. Além das questões econômicas, custo de vida e arrocho salarial, os dois principais movimentos grevistas acontecidos no Brasil surgiram espontaneamente de reivindicações trabalhistas e aconteceram em períodos onde as organizações de trabalhadores eram reprimidas e suas reivindicações não encontravam retorno. Foi assim 1917 e em 1978.

O Estado de S.Paulo - 14/7/1917

A greve de 1917, o primeiro grande movimento dos trabalhadores que o País conheceu. E surpreendeu porque o movimento operário era pulverizado, não havia estrutura sindical e nem legislação específica. Um dos líderes do movimento, Edgard Leuenroth, afirmou em artigo ao Estado em 1966, que tudo ocorreu de maneira espontânea e as causas foram as péssimas condições em que viviam os operários. Economicamente, os ganhos eram insuficientes para a sobrevivência e qualquer tentativa de organização dos operários era violentamente reprimida pela polícia. A greve de 1917 se espalhou pelo Estado de São Paulo, e recrudesceu quando a polícia matou com um tiro no estômago o operário espanhol Martinez.

Sem um órgão para interceder no movimento, cada vez mais violento, foi criado o Comitê da Imprensa, formado por jornalistas dos principais veículos de imprensa da cidade. Do Estado, participaram Nestor Pestana e Amadeu Amaral. O Comitê organizou as reivindicações e intermediou o conflito. O acordo foi publicado em 16 de julho. Nele os industriais aceitaram o reajuste de 25% dos salários, o direito de associação dos operários, pagamento na primeira quinzena. O poder público' por sua vez se comprometeu, entre outras coisas, a soltar todos os grevistas presos e fiscalizar as leis relativas ao trabalho. Os trabalhadores, representados pelo Comitê de Defesa Proletária, aceitaram as concessões dos industriais e as promessas do governo.

O Estado de S. Paulo - 6/6/1979

Em 1978, apesar dos trabalhadores já contarem com a CLT - Consolidação das Leis do Trabalho -, estrutura sindical e direito de greve garantido na Constituição, foi a inflação, manipulada pelo governo militar, que comia os salários e a carestia as razões do movimento dos metalúrgicos do ABC. O movimento grevista dos metalúrgicos também surpreendeu pela espontaniedade. Ele começou em maio de 1978 quando os trabalhadores da Saab-Scania entram na fábrica bateram o cartão de ponto e cruzam os braços. Foi o suficiente para dar o recado. Naquele mês, 25 mil trabalhadores fizeram o mesmo.

O ápice das greves no ABC foi em 1979. Em março, 200 mil metalúrgicos entraram em greve. Rapidamente as greves se alastraram por outros 15 Estados. O movimento do ABC foi considerado ilegal e o Ministério do Trabalho decreta intervenção no sindicato. No ano seguinte o movimento volta à tona e a greve dura 41 dias. As assembleias realizadas no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, acontecem sob a vigilância de helicópteros do Exército. No mesmo ano, Lula, o principal líder dos metalúrgicos, e outros integrantes do sindicato foram presos.

>> Em 1917, a primeira greve geral em São Paulo

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