Avenida Paulista: conheça a história do outro nome da via mais famosa de São Paulo
Carlos Eduardo Entini e Liz Batista - Acervo Estadão
08/12/2021 | 10h35   
Troca de poder marcou mudança do nome para Carlos de Campos em 1927, mas o nome não pegou
Hoje seria impensável chamar por outro nome a avenida símbolo de São Paulo, mas a Avenida Paulista, que completa 130 anos, já foi Avenida Carlos de Campos. Não carregou o nome por muito tempo, foram apenas três anos, de 1927 a 1930, mas a mudança esconde um importante processo de troca de poder na história de São Paulo e do Brasil.
Inauguração. A avenida foi entregue oficialmente ao público no dia 8 de dezembro de 1891, com o início do tráfego de bondes. "Ao meio-dia a Companhia Ferro Carril fará a inauguração de suas linhas da Bella Vista e da Bella Cintra (..) que percorrerão toda a Grande Avenida Paulista", dizia a notinha publicada na primeira página do Estadão.
Segundo o livro Cidade de São Paulo: Estudos de Geografia Urbana (1958), a via inicialmente seria chamada de Avenida das Acácias, ou Prado de São Paulo. Mas, o idealizador da via, o engenheiro Joaquim Eugênio de Lima decidiu-se por Avenida Paulista, em homenagem ao povo que tão bem o acolhera.
Em 1927, uma lei decretou que a Avenida Paulista passaria a se chamar Avenida Carlos de Campos. Era uma homenagem ao ex-presidente do Estado, nome do cargo de governador à época, morto naquele ano.
A mudança do nome pode parecer uma singela honraria a um ex-governante, mas por trás dela está um movimento de ascensão e queda de grupos políticos que lideraram as revoluções de 1924 e de 1930.
Carlos de Campos era chefe do governo de São Paulo quando explodiu a Revolução de 24, movimento que combatia as oligarquias políticas - ele era um dos alvos. Campos comandou a resistência e autorizou o bombardeio aéreo contra a capital para desentocar os revoltados. São Paulo foi a única cidade a sofrer um ataque aéreo na história do Brasil. Atualmente, Carlos de Campos dá nome à principal avenida do bairro do Pari. Ironicamente, uma das regiões mais atingidas pelos bombardeios de 1924.
A troca por decreto, em 1927, não foi bem aceita pelos paulistanos. Diversos anúncios publicados no Estadão na época mostram que ora a avenida era chamada pelo nome original, ora pelo novo.
Em 1930, um ato administrativo, de outro prefeito, desfez o primeiro e a Avenida Paulista retornou ao seu nome original. Numa canetada tudo voltou a ser como era antes, “a Avenida Carlos de Campos volta a denominar-se Avenida Paulista”.
O ato N. 11, publicado no Diário Oficial de 13 de novembro daquele ano, e assinado pelo prefeito Cardoso de Mello, nomeado pelo interventor, além de determinar que as vias deveriam apenas ser batizadas com nomes de pessoas falecidas, também oficializou o retorno ao nome Paulista. “Attendendo , finalmente, a que outras denominações a, que não deveriam jamais ter sido alteradas como a da Avenida Paulista que recorda, numa só palavra, todo o indefesso trabalho e honra da gente paulista”, diz o ato.
Na edição de 19 de novembro de 1930, a coluna Coisas da Cidade, do redator José Martins Pinheiro Júnior, comemorava a restituição do nome da Avenida: "Ninguém, a não ser os políticos partidários do extinto P.R.P., concordou com a suppressão do nome de Avenida Paulista, nome antigo, quasi tradicional, e que nunca deveria ter sido alterado. Naturalmente, não se protestou às claras, mesmo porque à occasião não o permitia; mas a verdade é que todas as pessoas sensatas e independentes acharam infeliz a idea. Por nossa parte, nunca deixamos de dar à avenida Paulista o nome com que sempre a conhecemos"
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