Brasil teve racionamento e postos fechados nas crises do petróleo dos anos 1970
Liz Batista - Acervo Estadão
11/03/2022 | 16h27   
Conflitos no exterior causaram filas, aumentos e racionamento nos choques de 1973 e 1979
As filas em postos de gasolina registradas nos últimos dias em São Paulo trouxeram à lembrança a crise do petróleo nos anos 1970. Postos fechados aos finais de semana, filas quilométricas nas bombas ainda em funcionamento e racionamento de combustível fizeram parte do dia a dia dos motoristas brasileiros durante os choques do petróleo de 1973 e de 1979, período onde a escassez do produto e a alta dos preços afetaram o mercado mundial. Hoje o mercado global enfrenta a maior turbulência desde então.
Nos anos 1970, o Brasil importava 70% do petróleo que consumia e durante as crises o petróleo chegou a subir mais de 40% em um ano. O preço da gasolina acompanhou a alta e o governo a colocou em ação medidas de racionamento. Gasolina não era vendida nos finais de semana e ficava proibido andar a mais de 80 quilômetros por hora nas estradas.
As longas filas que se formavam nos postos de gasolina nas vésperas dos aumentos ainda está gravado na memória dos brasileiros que viveram o período, assim como o programa Proálcool e os investimentos feitos nas Usinas Nucleares de Angra dos Reis, soluções propagandeadas pelo governo militar para driblar a dependência do Brasil no setor energético.
>> Jornal da Tarde - 04/8/1979
Guerra e petróleo. O primeiro choque do petróleo teve início em outubro 1973, quando os países árabes membros da Opep embargaram o fornecimento de petróleo para os Estados Unidos, Japão e Europa Ocidental em represália ao apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur. O embargo obrigou alguns países europeus e o Japão a racionar energia e levou o mundo à recessão.
Um ano antes da crise, em matéria publicada em 16 de julho de 1972, o Estadão expressou sua preocupação com o uso político da commodity : “O petróleo não é somente uma fonte de riqueza. É uma arma política. Toda a atividade dos países industriais depende dele. Os hidrocarbonetos fornecem - lhes entre dois terços e três quartos da energia que os move (...)”.
O Brasil não foi diretamente atingido pela decisão da Opep, pois o bom relacionamento com as nações produtoras garantiu o fornecimento. No entanto, o aumento das importações afetou nossa balança comercial. O crescimento retraiu. Então, para dar fôlego ao milagre econômico, o governo passou a tomar mais empréstimos no exterior. A dívida externa do País saltou de US$ 17,2 bilhões em 1974 para US$ 43,5 bilhões em 1978.
O segundo choque, em 1979, foi iniciado pela Revolução Iraniana, que derrubou o Xá Reza Pahlevi em fevereiro de 1979, e agravado pela Guerra Irã-Iraque iniciada em setembro de 1980, eventos que afetaram as exportações desses dois países.
Retórica de Figueiredo. Em novembro de 1979, o então presidente, João Baptista Figueiredo, com sua retórica particular confirmou em entrevista um nova fase de racionamento, protagonizando um dos momentos memoráveis da crise. Ao responder sobre qual seria a solução para a crise, o mandatário disse ao repórter: “É botar o cavalo no arado e andar a pé. Que solução você queria?”
>> Jornal da Tarde - 28/11/1979
O preço do barril de petróleo bateu recordes e o mundo viveu uma nova crise. Os choques de 1973 e 1979 ajudaram a compor o precário cenário da econômica brasileira na década de 1980, com encolhimento do PIB, moratória e inflação galopante.
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