Carandiru: a profecia que se concretizou

Carlos Eduardo Entini

28/09/2012 | 22h37   

Durante quase todo a existência, presídio conviveu com a superlotação e a violência

 “No dia em que houver uma rebelião vai ser uma coisa tão terrível que entrará para a história do mundo”. E foi. As palavras proféticas ditas por Luiz Camargo Wolfmann, o Luizão, em 1983, descreviam a situação vivida durante quase toda a existência do Carandiru.

Construído para acabar com o déficit prisional da cidade, em pouco tempo acabou sofrendo do mesmo mal. Em 1974, 18 anos depois de ser inaugurado, tinha 5.346 presos, mais do que o dobro da capacidade, 2.200. A superlotação era regra. Em 1978 a capacidade foi ampliada para 3.500. Em 1981, chegou a abrigar 7.029 presos. No mesmo ano a superlotação virou lei. A Justiça decretou que a população do presídio não poderia passar de 6 mil. Em 1992, contava com mais de 7 mil.

O Estado de S. Paulo - 22/3/1985

Além do excesso de presos, o Carandiru conviveu com o pior que um sistema prisional falho produz, falta de assistência jurídica e médica, presos com penas já cumpridas, deficientes mentais, presos de alta e baixa periculosidade misturados, falta de funcionários, etc. E gerou outras piores, violência, motins, homicídios, corrupção, abuso sexual, tráfico de drogas, corrupção.

O Estado de S. Paulo - 2/10/1992

“Quem quiser saber como não se deve fazer um presídio tem de vir aqui”, resumiu, Luizão, o carismático diretor em entrevista ao Jornal da Tarde em 1985. Aquela república, com leis próprias, era administrada com doses de complacência e rigidez dos diretores, para que o barril de pólvora não explodisse. Em 1985, quase explodiu. Um protesto pela não aplicação da Lei de Execução Penais, acabou em revolta e tomou conta de todos os pavilhões. Foram 11 mortos. A tragédia não foi pior porque a polícia não entrou. “Se PM invadisse haveria chacina”, publicou o Estado.

Mas a tragédia era questão de tempo, “não seria melhor colocar toda essa gente na parede e metralhar?”, era o que sempre perguntavam a Luizão. A resposta veio em 1992 de um sobrevivente do massacre “eles não deram chance, abriam as portas e apertavam o gatilho”. 

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