Catástrofe em Petrópolis é uma das maiores da história
Liz Batista e Edmundo Leite - Acervo Estadão
19/02/2022 | 15h34   
Maiores desastres do tipo aconteceram em 1967, na Serra das Araras [RJ] e Caraguatatuba [SP], e em 2011 em várias cidades do Rio
Com 138 mortes já confirmadas, a destruição de Petrópolis por deslizamentos e inundações neste verão de 2022 está entre as maiores catástrofes provocadas por efeitos de chuvas registradas no Brasil. Na história da cidade, o evento desse ano passa a ser o segundo mais mortal, superando as 87 mortes de 1979 e ficando mais próxima da grande tragédia de 1988 em Petrópolis, quando foram contabilizadas 171 mortes de acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais, que reúne dados de 1991 a 2012 e é citado em documento oficial da prefeitura.
Duas das maiores tragédias desse tipo no País aconteceram em 1967 no período de chuvas de verão em locais de serra semelhantes a Petrópolis: na Serra das Araras, no Rio de Janeiro, em 24 de janeiro daquele ano, e na Serra de Caraguatatuba, dois meses depois, 18 de março, em São Paulo. Centenas de pessoas morreram nos dois desastres climáticos daquele ano, que muitas vezes acabaram sendo confundidos como um evento único na memória coletiva. Com o passar dos anos, o desastre de Caraguatatuba passou a ser mais citado e lembrado, sobrepondo-se nas lembranças à gigantesca catástrofe da Serra das Araras, que foi esquecida em levantamentos posteriores da imprensa apesar de ter sido ainda mais devastadora.
Nos últimos anos, alguns estudos e reportagens voltaram a analisar os acontecimentos da Serra das Araras no verão de 1967 e passaram a computar o número de mortos em cerca de 1.700. Em 30 de janeiro de 1967, o delegado Valdir Cabral, enviado pela Secretaria de Segurança Pública, descreveu em relatório estar "impressionado" com que viu no Sul do Estado, "onde o número de mortos chega a 1.500 e os desabrigados vão além dos cinco mil", segundo publicou o Jornal do Brasil no dia seguinte. Em Caraguatatuba, a contagem da época indicava mais de 400 mortos, conforme publicou o Estadão na retrospectiva dos fatos do ano em dezembro.
Mas, em ambos os casos, já na época falava-se em um número incalculável de soterrados cujos corpos jamais seriam encontrados e nem contabilizados como desaparecidos. Sem números oficiais registrados, os dramáticos relatos dão a dimensão que nenhuma estatística é capaz de dar sobre a terrível experiência de uma avalanche de lama e água deslizar pela montanha sobre suas vidas. "A Serra das Araras é um imenso cemitério", escreveu o jornal o Globo de 25 de janeiro de 1967.
Relembre alguma das principais catástrofes climáticas e ambientais do Brasil, entre elas a de 2011, quando mais de 900 pessoas morreram em várias cidades do Rio de Janeiro.
>> Jornal da Tarde - 24/1/1967
Umas das mais mortais das tragédias naturais do gênero também ocorreu no Estado do Rio de Janeiro, na região da Serra das Araras, em 1967. Após chuvas sem precedentes atingirem os municípios ao entorno, uma tromba d'água deixou um rastro de água e lama que destruiu 10 quilômetros da Via Dutra, soterrou carros, ônibus, propriedades rurais e urbanas e inundou a usina hidrelétrica de Nilo Peçanha, levando ao apagão de 70% da eletricidade do, então, Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro. Na época, o numero de fatalidades apontavam para mais de 400 mortes. Hoje, estudiosos apontam para um custo em vidas assombroso, cerca de 1.700 mortes.
No mesmo ano, dois meses depois, em março, a cidade de Caraguatatuba viveu uma tragédia semelhante, quando também após as chuvas, uma violenta tromba d'água atingiu a cidade do litoral paulista. O rio Santo Antônio transbordou, a água derrubou casas e provocou uma enxurrada. A contagem indica 436 mortes mortes e mais de 3 mil desabrigadas, numa das piores tragédias naturais no Estado de São Paulo.
Petrópolis voltou ao noticiário de tragédias ligadas às chuvas em fevereiro de 1988, a devastação causada pelas águas, deixou cerca de 170 mortos, mais de 600 feridos e 4 mil desabrigados.
Em 2008, as intensas chuvas no mês de novembro levaram dezenas de cidades do Estado de Santa Catarina a declarar estado de emergência, numa das maiores enchentes registradas em décadas, 135 pessoas morreram e mais de 70 mil ficaram desalojados e desabrigados. A elevação do nível de água no Vale do Itajaí deixou centenas de moradores ilhados, o resgate teve que ser realizado por helicópteros.
Em 12 de janeiro de 2011, Petrópolis (mais uma vez), Teresópolis, Nova Friburgo e outras 13 cidades da região serrana do Rio de Janeiro foram atingidas por um forte temporal que causou enchentes, desabamentos e um dos piores deslizamentos de terra do mundo. A manchetes do Estadão do dia seguinte demonstravam a dimensão da calamidade. Centenas de vidas perdidas, milhares de desabrigados e municípios inteiros arrasados pela água e pela lama. Ao final de janeiro o número de desabrigados era estimado em 25 mil, a contagem do número de mortos se aproximava de mil - o número oficial hoje é de 917 mortos.
Uma busca pelo Acervo Estadão mostra que eventos do gênero não são apenas recorrentes na região, mas são também antigos. Uma notícia na edição de 13 de janeiro de 1909, descreve a situação darmática em Petrópolis naquele ano:
"Hontem, ás 11 horas da noite, desabou sobre a cidade de Petropolis uma violenta tempestade, determinando rapidamente uma grande enchente do rio Píabanha e seus affluentes. Em pouco tempo, o volume das águas cresceu de tal modo, que á 1 hora da manhan de hoje já os rios transbordavam em vários pontos...
Em alguns pontos da cidade caíram barreiras, causando pânico entre os moradores dos prédios próximos...
Houve transbordamentos de rios em muitos outros pontos, impedindo o trânsito...
O desastre ocasionou a morte das menores Luiza, de 14 annos, e Angelina, de 12 annos, que dormiam no quarto. Aos gritos de socorro acudiram os vizinhos, que nada puderam fazer devido á escuridão da madrugada e á chuva torrencial que caia."
Desastres ambientais. Duas outras catástrofes evocam a memória do efeito destruidor da força das águas, inundações, lama e morte: os rompimentos das barragens nas cidades mineiras de Mariana em 2015 e em Brumadinho em 2019. Em Mariana, 18 vidas foram perdidas, em Brumadinho, um dos piores desastres de mineração do País, foram registradas 259 mortes.
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