Chuva e tragédia em Petrópolis: notícia que se repete sem solução há mais de 100 anos
Edmundo Leite - Acervo Estadão
16/02/2022 | 13h14   
Páginas do Estadão mostram os estragos causados pelas tempestades há mais de um século
Grande tempestade — Petropolis inundada — Rios que transbordam — Moradores em apuros — A cidade ás escuras — Queda de barreiras — Armazém arrombado peIas águas.
Os títulos acima sobre as chuvas na cidade de Petrópolis e outras localidades poderiam fazer parte do atual notíciário sobre os efeitos das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro. Mas foram publicadas há mais de um século pelo Estadão, na edição de 13 de janeiro de 1909. A semelhança dos relatos sobre as chuvas e suas conseqüências mostram que de lá para cá as medidas de prevenção ao fenômeno climático anual não foram feitas ou não surtiram efeito.
"Hontem, ás 11 horas da noite, desabou sobre a cidade de Petropolis uma violenta tempestade, determinando rapidamente uma grande enchente do rio Píabanha e seus affluentes. Em pouco tempo, o volume das águas cresceu de tal modo, que á 1 hora da manhan de hoje já os rios transbordavam em vários pontos...
Em alguns pontos da cidade caíram barreiras, causando pânico entre os moradores dos prédios próximos...
Houve transbordamentos de rios em muitos outros pontos, impedindo o trânsito...
O desastre ocasionou a morte das menores Luiza, de 14 annos, e Angelina, de 12 annos, que dormiam no quarto. Aos gritos de socorro acudiram os vizinhos, que nada puderam fazer devido á escuridão da madrugada e á chuva torrencial que caia."
Ao longo dos anos seguintes, as páginas do jornal continuaram a mostrar a tragédia causada pelas chuvas na estado do Rio de Janeiro. A pior delas é de 1967, quando uma tromba d’água na Serra das Araras deixou centenas de mortos naquela que é considerada uma das maiores tragédias do Brasil. Já nos primeiros relatos eram cerca de 400, mas o saldo final com o passar dos dias chegou a cerca de 1.700. Uma da cidades mais afetadas foi Piraí.
>> Jornal da Tarde - 24/1/1967
O rastro de água e lama destruiu 10 quilômetros da Via Dutra, soterrou carros, ônibus e propriedades rurais e urbanas nos municípios da região. A usina hidrelétrica Nilo Peçanha foi foi inundada e 70% do Estado da Guanabara, atual Rio de Janeiro, ficou sem energia elétrica.
Em 1988, quando as chuvas deixaram 170 mortes, 600 feridos e 4 mil desabridados, o Estadão alertava num título de alto de página na edição de 26 de fevereiro: "Petrópolis pode viver nova tragédia". A abertura do texto dava a letra das tragédias anunciadas que voltariam a acontecer no futuro: "Se medidas preventivas não forem tomadas para conter as encostas e evitar a ocupação urbana desordenada, em pouco tempo Petrópolis poderá viver uma tragédia ainda maior do que há ocorrida por causa das chuvas".
>> Estadão - 26/2/1988
Mais recentemente, em 2011, a tragédia das chuvas contabilizou um saldo de quase mil vítimas fatais. O número oficial foi de 916 mortos - enquanto o número de desabrigados era estimado em 25 mil.
>> Estadão de 13/1/2011.
>> Estadão - 13/1/2011
Em 2013, quando a chuva voltou novamente a causar a mortes de 33 pessoas e deixar vários estragos na região, o Estadão publicou que os radares metereológicos de longo alcance comprados logo após a tragédia anterior ainda não havia chegado dois anos depois. A reportagem também mostrava os problemas no repasse para Petrópolis de verbas do governo federal destinadas a desastres naturais.
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