Ford instalou fábrica no Brasil em 1919

Carlos Eduardo Entini, Edmundo Leite e Liz Batista - Acervo Estadão

11/01/2021 | 18h49   

Modelo T, apelidado no País de Ford Bigode, marcou o início da indústria automotiva no Brasil

O anúncio do encerramento da produção e o fechamento das fábricas de carros da Ford no Brasil simboliza o fim de um ciclo centenário da indústria automotiva brasileira iniciado em 24 de abril de 1919 com o início da produção de seus veículos no centro de São Paulo. Foi a primeira fábrica automotiva do País, um marco da industrialização do Brasil, que então importava praticamente todos produtos manufaturados mais sofisticados do exterior. Ao informar que voltará a vender no País automóveis vindos da Argentina, a mais tradicional montadora de veículos do mundo retorna aos primórdios de sua instalação na América do Sul, quando os seus automóveis aqui vendidos vinham da fábrica no País vizinho.

A história da Ford brasileira começou com Benjamin Kopf e E. A. Evans, dois importadores que até então mantinham a primeira agência da Ford, na rua Julio Conceição, onde revendiam veículos produzidos nos Estados Unidos. Com capital inicial de 25 mil dólares enviados da subsidiária de Buenos Aires, os dois instalaram a empresa na rua Florencio de Abreu, no centro de São Paulo. Ali eram finalizados os carros que vinham desmontados do exterior. A equipe pioneira era formada por doze funcionários, dez técnicos americanos e uma centena de funcionários na capital e no interior para revender os novos carros. 

Mesmo com essa estrutura fabril incipiente,  a Ford vendeu 2.447 veículos em 1920 e 4 mil no ano seguinte. Com a demanda crescendo cada vez mais, as instalações da Florencio e Abreu ficaram pequenas e foi então comprado um ringue de patinação na Praça da República. A nova linha de montagem produzia de 12 a 15 carros por dia. Em 1921, a Ford inauguraria uma fábrica especialmente para a linha de montagem, na Rua Solon, no Bom Retiro. A linha de montagem era uma cópia idêntica, mas em tamanho reduzido, da matriz de Detroit, nos Estados Unidos. Além da fábrica, a Ford inaugurou a Escola Mecânica volante, com objetivo de formar mão de obra operária especializada.  

 

A mágica de Ford -  Três anos depois da inauguração da fábrica no Bom Retiro, uma Exposição de Automobilismo movimentou São Paulo em 1924. Um parque de cinema foi montado no Palácio das Indústrias para o evento. Os visitantes podiam assitir filmes que mostravam as “belezas dos 700 KM de estradas de rodagem do Estado de São Paulo”. Mas, como contou o Estadão de 14 de outubro de 1924, a maior atração foi apresentada pela “Ford Motor Company”, que além de realizar exibição de corridas de tratores, reproduziu no pátio externo do centro de convenções sua linha de montagem e ali, diante dos olhos dos presentes, montou como vinha fazendo nas linhas das suas primeiras fábricas na Rua Florêncio de Abreu e na rua Solon, seus automóveis.

Inteiramente montado ali, o  carro de número 22.000º saiu do pátio da exposição para percorrer as ruas da cidade. A notícia seguia relatando como a velocidade aplicada na produção dos automóveis assombrou os visitantes: “de facto, a linha de montagem da Ford Motor Company é o ponto que tem attraido maior numero de pessoas ao recinto da Exposição. A rapidez com que se montam os carros Ford naquelle local constitue uma verdadeira revelação para o nosso publico que já comprehendeu que ima nova industria, a de construcção de automoveis vae surgindo auspiciosamente no paiz.”, contava a matéria. 

 

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