General Newton Cruz pegou repórter pelo pescoço em 1983
Liz Batista - Acervo Estadão
25/08/2020 | 08h35   
Militar partiu para cima do jornalista Honório Dantas durante uma coletiva de imprensa
Ao responder que tinha "vontade de encher sua boca de porrada” a um repórter que lhe perguntou sobre depósitos feitos por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro, Jair Bolsonaro trouxe à lembrança episódios protagonizados pelo general Newton Cruz, figura admirada pelo atual presidente e uma de suas testemunhas de defesa no processo que respondeu no STM em 1988. A truculência do militar era notória, mas um caso em particular é emblemático. Durante os anos finais da ditadura militar no País, numa coletiva de imprensa em 1983, o general mandou um jornalista calar a boca, o pegou pelo pescoço e o arrastou pelo braço.
Na época, o general Newton Cruz, então comandante militar do Planalto, era o executor das medidas de emergência decretadas pelo presidente, o general João Figueiredo, em outubro daquele ano, e descontrolou-se durante uma coletiva organizada para prestar contas sobre os dois meses de vigência das medidas no Distrito Federal. Newton Cruz chamou o repórter Honório Dantas de “moleque”, disse para ele calar a boca, exigiu que ele se desculpasse por suas colocações e partiu para agressão física, como descreveu o Estadão de 18 de dezembro de 1983.
“O general empurrou o radialista, ao final de uma entrevista, e este, ironizando, disse sentir-se honrado. Foi detalhe suficiente para Newton Cruz, demonstrando ter ficado inteiramente fora de si, dar um pulo de mais de um metro e agarrar o repórter pelo pescoço, a despeito das tentativas de contê-lo por parte de vários oficiais”, contava a matéria.
Sob pressão, diante da repercussão negativa da invasão, por ele autorizada, à seccional da OAB do DF em 24 de outubro de 1983 - ação que acabou não provando violação da ordem ou das condições impostas pelas medidas de emergência e que que desencadeou uma forte reação da sociedade civil - o general Newton Cruz “demonstrou irritação ao longo de toda a conversa com os jornalistas”, relatou o Estadão. O jornal lembrou a “notória aversão a jornalistas” do ex-chefe da Agência Central do SNI, ao enumerar outros ataques contra a imprensa.
Desde a decretação das medidas de emergência, após a acalorada votação de decretos que dispunham sobre o regime salarial das estatais em outubro de 1983, a imprensa, parlamentares e diversos setores da sociedade questionavam a administração Figueiredo sobre a necessidade da aplicação das medidas de emergência, que autorizavam busca e apreensão em domicílios, a intervenção em entidades representativas de classes e suspendiam a liberdade de reunião e associação. A ação do Executivo era apontada como um retrocesso do governo que afirmava compromisso com a abertura política do País.
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