Há 100 anos, mulheres conquistavam direito ao voto nos Estados Unidos
Liz Batista - Acervo Estadão
18/08/2020 | 13h42   
Ratificação da 19ª Emenda em 1920 assegurou voto feminino e primeira eleição nacional com participação das mulheres
O direito ao voto e à participação política através dele foi um objetivo que uniu gerações de mulheres americanas por décadas. Em 18 de agosto de 1920, o reconhecimento da 19ª Emenda à Constituição, pelo Estado do Tennessee (36º Estado necessário para garantir a adoção da lei em nível nacional) marcou a essa conquista .
Foi uma árdua luta, até o último momento. Com a maioria dos Estados já posicionados sobre a emenda, sob a resolução do Tennessee pesava a melhor chance de torná-la lei. Um empate na votação foi revertido graças ao voto favorável de um jovem deputado, de 24 anos de idade, Harry T.Burn, que declarou que uma carta da sua mãe o lembrou da importância de votar pela emenda.
A emenda seria certificada dias depois, em 26 de agosto, pelo Secretário de Estado dos EUA, Bainbridge Colby, e em novembro daquele ano as americanas puderam ir pela primeira vez às urnas para escolher o novo presidente da República.
Essa vitória só foi alcançada após mais de 70 anos de persistente empenho, num caminho iniciado formalmente com a Declaração dos Direitos e Sentimentos de 1848 - primeiro documento que endossa abertamente o sufrágio feminino na América - e que fez convergir diferentes grupos e agendas políticas e sociais na busca pelo direito ao voto feminino. Um direito, que como dizia o texto da 19ªEmenda, não seria “negado com base no sexo”.
Grupos que defendiam a igualdade de direitos entre os gêneros e maior participação das mulheres na política desempenharam papel importante não apenas nas conquistas femininas mas em eventos chaves da História americana. Fosse através de sua presença em movimentos progressistas por direitos civis, como o movimento abolicionista e depois pela aprovação da 15ª Emenda que garantiu o voto aos homens negros em 1870; ou no moralmente conservador movimento da Temperança que impulsionou a adoção da Lei Seca no início de 1920, mulheres provaram o poder de seu apoio político ao longo de décadas. Mas foi a criação de organizações femininas como a National American Woman Suffrage Association (NAWSA) em 1890 e o National Woman's Party (NWP), em 1916, que direcionaram acertivamente os esforços para obtenção do direito ao voto.
Embora alguns Estados americanos permitissem que mulheres votassem (o Wyoming, por exemplo garantia às mulheres esse direito desde 1869), a experiência política apontava que o caminho para alcançar e garantir o voto em escala nacional deveria ser assegurado através da adoção de uma emenda à Constituição. Desde de 1878, primeira vez em que uma lei pela adoção do sufrágio feminino foi levada à votação no Congresso dos Estados Unidos e foi derrotada, as americanas buscavam a participação política através do voto. Uma batalha que se desenvolveu em diferentes frentes.
No âmbito legal, mulheres e organizações moviam ações judiciais pleiteando o direito ao voto. No legislativo, pressionavam por pautas inclusivas nos Estados e na Federação,. No político, mantinham uma militância ativa que buscava aumentar a adesão à causa e mobilizar a opinião pública em seu favor. Protestos e boicotes, que muitas vezes levavam à prisão de suas líderes, foram fundamentais para dar visibilidade ao movimento.
Em 1919, uma nova oportunidade se apresentou para as sufragistas. Naquele ano o cenário político americano parecia particularmente propenso às suas demandas. O mundo também. A ampla atuação das mulheres na Primeira Guerra Mundial ( 1914- 1918) havia impulsionado a causa sufragista pelo globo.
Durante a Revolução Russa, em 1917 ,as mulheres adquiriram o direito ao voto na Rússia; em 1918, o Reino Unido e a Alemanha também adotaram leis que permitiram o voto feminino. No mesmo período, Dinamarca, Canadá e Noruega também avançaram nesse sentido. Em 1918, o próprio presidente americano, Woodrow Wilson, reconheceu a valiosa participação feminina no esforço de guerra e declarou seu apoio à extensão do direito ao voto para as mulheres.
Em 21 de maio de 1919, a resolução em favor do voto feminino foi colocada em votação na Câmara dos Representantes. A Casa aprovou a resolução em favor do voto feminino, com uma margem de 42 votos de vantagem. Em 4 de junho a resolução foi aprovada pelo Senado e seguiu para ratificação nos Estados, dando início à corrida pelo reconhecimento da emenda.
A decisiva participação de organizações femininas na aprovação da Lei Seca, que entrou em vigor em janeiro de 1920, forneceu um enorme capital político para as mulheres que pressionaram os membros do Legislativo e Executivo em nível federal e local para a adoção da 19ª Emenda à Constituição. A corrida eleitoral de 1920 também exerceu sua influência e demonstrou o crescente interesse de ambos os partidos, Republicano e Democrata, nessa parcela do eleitorado.
A enorme conquista do direito ao voto em 1920, não significou, no entanto, a completa liberdade para seu exercício. Para muitas mulheres, nativo americanas, negras e imigrantes a segurança da lei não garantiu seu acesso às urnas.
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