Há 30 anos, 'Estado' sofria atentado

Rose Saconi

14/11/2013 | 11h22   

Carro-bomba explodiu no estacionamento do jornal; em 2012, ex-delegado do DOPS assumiu a autoria

O Estado de S. Paulo - 16/11/1983

14 de novembro de 1983, 18h07. Um violento estrondo seguido de chamas que atingiram até o sexto andar do prédio causou pânico e confusão entre os funcionários do Estado. Um dispositivo, com fios ligados à bateria e uma bomba-relógio, que detonou dois botijões de gás, explodiu no porta-malas de um automóvel, um Voyage, que estava estacionado no pátio externo da empresa. Felizmente, não houve vítimas. Na época, ninguém reivindicou a autoria do atentado.

Trinta minutos antes da explosão, um casal bem-vestido foi visto por um dos seguranças da portaria da avenida Engenheiro Caetano Álvares. O casal deixou o estacionamento e, a pé, dirigiu-se para a marginal Tietê. Logo nas primeiras investigações, a Polícia Federal concluiu que o jornal tinha sido vítima de um atentado premeditado: não foi um carro a gás - como se pensava inicialmente- que explodiu, mas um carro-bomba.

"Nada intimida o jornal". Com essa frase o diretor do jornal, Julio de Mesquita Neto, reafirmou um dia após o atentado que a linha editorial do Estado, após cem anos, "não mudaria nunca". Na época, políticos, empresários e representantes de entidades de classe manifestaram solidariedade ao jornal. Em nome de todo o País, o vice-presidente Aureliano Chaves repudiou o atentado.

O ministro-chefe do Gabinete Civil, Leitão de Abreu, em nome do presidente João Figueiredo, considerou o acontecimento "intolerável e profundamente lamentável". Um atentado contra a própria tradição humanística do povo brasileiro, acrescentou o ministro. Na época, os autores do atentado não foram identificados e a polícia arquivou o processo e abril de 1984. 

No ano passado, o ex-delegado do DOPS Cláudio Guerra assumiu a autoria do atentado no livro “Memórias de uma Guerra Suja”, dos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros. Também em 2012, à Comissão Municipal da Verdade (órgão que apura os crimes ocorridos durante a ditadura), Guerra afirmou que o regime militar, a partir de 1980, decidiu desencadear em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País.

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