Há 45 anos, uma odisseia pelo espaço
Liz Batista
03/04/2013 | 21h06   
Ficção científica de Kubrick pavimentou o caminho para produções do gênero
Cena do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço" de Stanley, Kubrik
Reprodução/ Acervo Estadão
Há 45 anos, espectadores rendiam-se à arte narrativa de Stanley Kubrick e eram conduzidos por uma incrível viagem temporal, numa trajetória que os levou há quatro milhões de anos atrás e para dois mil anos-luz.
Sem nenhuma referência intermediária à qualquer tempo marcado pela a história escrita, fosse ela Antiga, Medieval, Moderna ou Contemporânea, o homem pré-histórico e o homem que avança pelo espaço, a fronteira final, são os paralelos que unem a narrativa de 2001: Uma Odisseia no Espaço, a obra-prima de ficção científica de Kubrick.
Dirigido e produzido por Kubrick e baseado na obra de Arthur C. Clarke, o filme foi lançado em 4 de abril de 1968, nos Estados Unidos.
Reunindo grandes temas, como a evolução humana, a ameaça de extinção, o progresso tecnológico, a vida extraterrestre e a inteligência artificial, a obra apresentou uma combinação de recursos visuais e abordagens filosóficas até então inexploradas nos filmes de sci-fi, e pavimentou o caminho para as próximas produções cinematográficas do gênero.
No Brasil, o filme foi lançado também em abril de 1968. Chegou antes das críticas estrangeiras, o que provocou uma genuína divisão da crítica nacional. Houve aqueles que se frustraram por não ver nenhum marciano, aqueles que reclamaram do final e do “desvario um tanto excessivo das cores, nas últimas cenas”. E, aqueles que exaltaram a construção do personagem Hal 9000, o computador com inteligência e potencialidades emocionais quase humanas, “uma invenção excelente”. Unânimes, foram apenas em três pontos apontados pelo público: em classificá-lo como audacioso; em elogiar a escolha de clássico se para a trilha sonora- Danúbio Azul, de Johann Strauss II e Assim falou Zaratustra; e em considerar sua abertura obra de um gênio.
Em consonância, não houve quem não enxergasse beleza na Aurora do Homem. E foram sobre os primeiros minutos do filme que os críticos se debruçaram, em análises sobre a construção cênica do despertar da consciência no homem-macaco, a descoberta e aprimoramento dos meios para a violência, entendendo esta como precursora do progresso.
Ao futuro idealizado por Kubrick ficaram reservadas as críticas sobre sua estética visual. Inovadora e hipnótica, garantiram ao filme o Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Numa declaração quase profética, Kubrick disse que “2001 é tão perfeito tecnicamente que o próximo filme sobre viagens espaciais se quiser ser melhor terá de ser filmado nos próprios locais”.
O Estado de S.Paulo, 06/7/1968
Levado ao público pouco mais de um ano antes de ser televisionada a chegada do homem à Lua, coube ao filme gravar no imaginário coletivo vivas imagens do espaço. Reais ou não, elas foram a referência prévia daqueles que assistiram, em 20 de julho de 1969, Neil Armstrong dar “um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Não é de se admirar a desconfiança de muitos, que se perguntaram, diante da TV, se o que assistiam era real. Em “2001, Uma Odisseia no Espaço” há a própria representação da aclamada magia do cinema, nele o feiticeiro Kubrick construiu um cenário tão perfeito e tangível na imaginação daqueles que o assistiram que fez com que o real parecesse falso.
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