Maksoud Plaza, um hotel acolhedor também aos não hóspedes

Edmundo Leite, Liz Batista e Carlos Eduardo Entini - Acervo Estadão

07/12/2021 | 20h35   

Hotel que fecha as portas era um símbolo da hotelaria e se tornou um cartão postal de São Paulo

Algumas horas antes de Axl Rose jogar uma cadeira contra repórteres que estavam no saguão do Maksoud Plaza, em 1992, assessores do líder do Guns'n Roses pediram ao hotel que retirasse os jornalistas do local. Ao contrário do que costumava fazer com presteza para solicitações das mais inusitadas de todo o tipo de hóspede, o pedido não foi atendido pelo hotel. Roberto Maksoud, filho do fundador e diretor do hotel de luxo desde a inauguração em 1979, explicou à equipe do roqueiro que era impossível atendê-lo, argumentando que o hotel já recebeu outras bandas sem precisar impedir o trabalho da imprensa. 

A resposta dada a uma das maiores estrelas do rock mundial no auge do sucesso, e que vinha a São Paulo pela primeira vez, ilustra o conceito de hotelaria que vigorava no Maksoud Plaza. Muito luxo, conforto, privacidade e eficiência para quem pagasse pelas diárias que nos tempos áureos podiam ir de  250 a 1.600 dólares, mas também um clima acolhedor para quem não era hóspede e estava ali por outros motivos. 

Essa filosofia de trabalho foi detalhada por Roberto Maksoud no Suplemento de Turismo do Estadão em 1986: "O hotel é uma instituição que de tempos imemoriais acolhe os viajantes em busca de pousada. Sua tradição é de sempre receber com dignidade um visitante, independente de seu credo, raça, cor ou convicção política, alimentando, dando pousada e segurança a quem o procura e congregando em suas dependências manifestações culturais, científicas ou comerciais, entre outras. Sua existência é imprescindível, em uma nação civilizada, ao intercâmbio nacional e internacional". 

Quando o Maksoud foi apontado como o melhor hotel da América Latina e do Brasil por leitores da revista Euromoney, Roberto Maksoud disse que não eram a tecnologia e os serviços de ponta que o distinguia dos concorrentes. "Todo hotel cinco-estrelas oferece isso. O hotel destaca-se pelo lado humano, no atendimento e nos serviços. Meu primeiro hóspede continua sendo cliente até hoje."

Praça - Tudo o que o dinheiro pode pagar estava disponível a partir dos primeiros andares acima do mezanino. Mas com um grande atrio que lembrava quase uma praça pública, o lobby do Maksoud, como todos o chamavam, sem hotel antes e Plaza depois, em nada se parecia com outros hotéis em que o esquema de segurança intimida visitantes.

Com vários bares, cafés, restaurantes, salão de beleza e lojas, o saguão térreo do Maksoud não era uma simples recepção para agilizar chegadas e saídas de hóspedes. Mesmo quem não tivesse um tostão para desfrutar dessas delícias podia transitar ali tranquilamente, se admirar, sonhar e, por quê não?, invejar as mordomias dos que subiam pelos elevadores panorâmicos.

Outro fator determinante para a grande circulação dentro do Maksoud era o sem número de eventos corporativos, gastronômicos e culturais realizados principalmente nos salões de chão acarpetado e teto de forro com placas de estilo móbile que produziam um efeito visual único.

Tinha de tudo. Entrevistas coletivas, como a dos Ramones em 1987 e do iniciante diretor Quentin Tarantino no mesmo 1992 da fúria de Axl, lançamentos de filmes nas salas de cinema, desfiles de moda, transmissões ao vivo do Oscar com festa, palestras, seminários e festivais de comidas típicas. 

infra-estrutura impressionante fazia do hotel uma mini-cidade. No apagão nacional de 1999, quando São Paulo ficou às escuras, algumas pessoas que estavam na região da Avenida Paulista se lembraram do potente gerador do Maksoud, foram para lá e encontraram o hotel em pleno funcionamento e puderam beber e comer no piano-bar como se a principal crise energética do País não estivesse acontecendo naquele instante.

Tradição musical - Local da mítica apresentação de Frank Sinatra em 1981, o Maksoud  Plaza também foi um marco da programação musical da cidade, com o seu 150 Night Club servindo de palco para artistas de estilos variados e comédias stand-up antes mesmo de terem esse nome por aqui. Astros de primeira grandeza de todos os estilos se hospedavam lá, como os Rollings Stones em sua primeira turnê pelo Brasil em 1995. 

Uma década antes, a hospedagem de outro gigante da música quase terminou em tragédia. Na virada da noite de 20 para 21 de agosto de 1985, após se apresentar no Palace, Chet Baker foi reanimado por um médico em seu quarto no Maksoud depois de uma overdose de um coquetel de drogas, conforme contou o biógrafo James Gavin no livro No Fundo de um Sonho.

Além das atividades mundanas noturnas propiciadas pelos drinks dos bares e cardápios dos restaurantes, uma atração matinal mais familiar foi outro sucesso do Maksoud. O café da manhã, responsável por popularizar o termo brunch por aqui, marcou época. Como um dos serviços de transporte que levava passageiros do Aeroporto de Guarulhos a São Paulo parava ali, muitos viajantes optavam por desfrutar do banquete matinal do Maksoud mesmo não se hospedando lá.

A arquitetura do Maksoud favorecia esse tipo de convivência entre hóspedes e vistantes fortuitos desde o lado de fora, com uma ampla área livre na calçada da rua São Carlos do Pinhal. Dali, fãs que se reuniam para tietar astros hospedados entravam para o hall e podiam zanzar por ali sem maiores impedimentos.

Localizado uma rua abaixo da Avenida Paulista, o Maksoud era de fácil acesso para turistas de fora que apenas queriam conhecer e tirar fotos no local, assim como acontece com os icônicos Waldorf-Astoria em Nova York , o Plaza Athénée de Paris e o Ritz, em Londres. Representava para São Paulo em termos de hotelaria o que o Copacabana Palace simboliza para o Rio de Janeiro. Um cartão postal da cidade que vai deixar saudade.

>> Leia mais sobre o fechamento do Hotel Maksoud Plaza

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