Morte de Pasolini foi tão chocante quanto sua obra

Cristal da Rocha

02/11/2015 | 07h06   

Diretor de cinema italiano foi morto há 40 anos em circunstâncias mal esclarecidas

Pasolini nas filmagens do 'Decamerão', em 1971. AFP

A morte do diretor de cinema e escritor Pier Paolo Pasolini foi tão chocante quanto sua obra. Assassinado há 40 anos, em um dia de finados, o diretor de cinema estava no auge de sua carreira. O cineasta morreu em 2 de novembro de 1975 no balneário de Ostia, a 30 km de Roma, em circunstâncias mal esclarecidas, após uma briga com um garoto de programa.

Até hoje não se sabe ao certo se o rapaz agiu sozinho ou em grupo. Na fuga o agressor pegou o carro de Pasolini e passou sobre seu corpo, esmagando seu coração. O agressor, Giuseppe "Pino" Pelosi, chegou a declarar em outros depoimentos que o diretor foi assassinado por três pessoas. O caso foi reaberto, mas recentemente a Justiça italiana o arquivou. 

 

O Estado de S. Paulo - 4/11/2015

Considerado na época um grande diretor de cinema italiano, Pasolini era dotado de uma intensa energia para expressar suas opiniões a respeito de temas políticos e sociais nos quais acreditava. Entre os filmes idealizados, escritos e dirigidos por Pasolini estão “La Ricotta” que incluía Orson Welles em seu elenco e “O Evangelho Segundo São Mateus”. A igreja o acusou de injúria e atentado a moral com “Teorema”. Esse filme foi censurado em todo Brasil em 1969.

pier paolo pasolini

O diretor e a cantora Maria Callas, durante as filmagens de 'Medeia'. Divulgação

Embora tenha falecido jovem, aos 53 anos, ele deixou em seu currículo uma lista considerável de filmes. Até hoje são cultuados e viraram referência por causa de sua abordagem política e religiosa, tais como “Mamma Roma”, “Gaviões e Passarinhos”, “Édipo Rei”, “Medéia”, que incluía a cantora lírica Maria Callas no papel principal, e o mais questionador filme “Saló, Os 120 Dias de Sodoma”. ”Saló”, o último do diretor, possuiu imagens que à época escandalizaram as pessoas com nudez, violência sexual e escatologia. Pasolini não pôde vê-lo nas telas, foi assassinado 20 dias antes do lançamento.

 

pier paolo pasolini

Pasolini durante as filmagensde 'Saló', filme que não chegou a ver. Reprodução

Por acreditar ser um homem deslocado de seu tempo, o cineasta usou a tela do cinema como meio de comunicação para mostrar a sociedade a qual pertencia e para o público as mazelas do proletariado, o estilo de vida agressivo e a base de exploração no qual viviam os italianos do pós-guerra. Transformando seus filmes muito mais do que cenas que chocavam através de corpos sem roupas, abusos físicos, psicológicos e radicalismos contra a igreja, eles forneciam subsídios para o entendimento do cotidiano em Roma de forma tal qual como era entendida por ele: lamentável e degradada. 

Pier Paolo Pasolini era conhecido por seu estilo provocador, radical e a favor da liberdade sexual, sempre se expressou emocional e politicamente, por isso acabou sendo condenado por suas condutas pessoais. Em sua última entrevista, poucos dias antes de sua morte, falava sobre os jovens de Roma e veio a falecer de forma truculenta pelas mãos daqueles que sempre procurou abordar de forma crítica e questionadora em seus trabalhos. 

Tag: Pier Paolo Pasolini

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