Morte de PC Farias gerou um verdadeiro 'CSI Alagoas'

Carlos Eduardo Entini e Rose Saconi

07/05/2013 | 13h15   

Laudos, minúcias técnicas e teses sobre as misteriosas mortes viraram tema do dia entre os brasileiros

Badan Palhares e George Sanguinetti debatem laudos da morte de PC, em 1996. Sérgio Castro/Estadão

 “O projétil transfixou o lóbulo superior do pulmão esquerdo, deu continuidade à sua trajetória em direção ao mediastino, transfixou o mediastino posterior, arrebentou a aorta, lesionou a veia cava, bateu em seguida no corpo vertebral ao nível toráxico, Depois passou entre o corpo toráxico e um tecido extremamente resistente que o envolve. Em seguida, atingiu o arco costal, fraturou-o, modificou a sua trajetória pela segunda vez e foi parar onde foi encontrado”. O texto é perfeito num diálogo de CSI, a série americana de TV  que aborda o trabalho da polícia científica para desvendar crimes misteriosos em cidades dos EUA.

Mas é a explicação da trajetória da bala que matou PC Farias pelo legista Bandan Palhares, em 1996, quatro anos antes da estreia da série. E foi dita durante debate realizado no Estado em 15 de agosto daquele ano.

A misteriosa morte de PC Farias e sua namorada Suzana Marcolino levou para o público brasileiro um debate inédito entre laudos repletos de termos técnicos. Durante meses, o País discutiu a tese do coronel da reserva da PM de Alagoas e professor de medicina legal, George Sanguinetti contestando o laudo pericial feito por Palhares. Para ele, PC Farias não teria morrido no local onde o corpo foi encontrado. Teria sido arrastado para dentro do quarto, e sua namorada não teria cometido o suicídio. Sanguinetti também contestava em seu laudo a trajetória das balas. Já o legista Badan Palhares, responsável pela autópsia, defendeu a tese de homicídio seguido de suicídio. Em 1999, a disputa entre laudos e legistas extrapolou a discussão científica. Sanguinetti chegou a acusar Badan de ter recebido R$ 400 mil para que forjasse o laudo e acusou o irmão de PC, Augusto Farias, pelo duplo homicídio. Badan Palhares chegou a processar o colega por calúnia e difamação. Essas acusações foram arquivadas pelo STF em 2002. 

 

 

Cronologia Caso PC

Maio/1992

Pedro Collor acusa PC de ser testa de ferro de Collor. Em entrevista à revista Veja, o irmão do ex-presidente denuncia o suposto esquema de corrupção envolvendo Fernando Collor e seu tesoureiro de campanha.

Julho/1992

O Congresso instala a CPI. O motorista Eriberto França afirma que as contas da Casa da Dinda são pagas por PC. Cuidadoso, ele guardava recibos de depósitos feitos a pedido de PC Farias e de seus sócios nas contas de Rosane, mulher de Collor.

O Estado de S. Paulo - 2/7/1992

 

Agosto/1993

STF decreta prisão de PC por crime de corrupção passiva. Ele foge do País

Outubro/1993

É localizado em Londres, o governo brasileiro pede sua extradição, mas ele logo desaparece de novo.

Novembro/1993

PC Farias é preso na Tailândia pelo embaixador brasileiro em Bangoc, Paulo Monteiro de Lima.

O Estado de S. Paulo - 30/11/1993

 

Dezembro/1994

É condenado a sete anos e quatro meses de prisão em regime fechado por falsidade ideológica e sonegação fiscal no STF.

 
O Estado de S. Paulo - 14/12/1994

 

 

Junho/1996

PF entrega à Justiça conclusão do inquérito sobre o esquema PC. Foram mais de 400 indiciamentos de empresários e autoridades. O total de recursos movimentados pelo esquema PC chegava a R$ 350 milhões.

O Estado de S. Paulo - 6/6/1996

 

Junho/1996

PC Farias é fuzilado com um tiro no peito na madrugada de 23 de junho de 1996. O corpo foi encontrado no quarto da sua casa de praia, em Guaxuma, arredores de Maceió (AL). Ao lado de PC estava o corpo de sua namorada, Suzana Marcolino, morta com uma bala calibre 38.

O Estado de S. Paulo - 24/6/1996

Julho/1996

Equipe do médico legista Badan Palhares exuma os corpos de PC e de Suzana.

 

O Estado de S. Paulo - 3/7/1996

 

Novembro/2000

Laudos do exterior reabrem polêmica sobre o caso.

O Estado de S. Paulo - 5/11/2000

 

Novembro/2002

STF arquiva inquérito sobre morte de PC Farias.

 

Setembro de 2007

Badan Palhares perde na Justiça o processo movido contra Sanguinetti por danos morais. Segundo ele, Sanguinetti teria insultado seu trabalho que considerou o crime como homicídio seguido de suicídio.

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