Muro econômico foi o primeiro a ser erguido em Berlim
Liz Batista
12/10/2014 | 14h29   
Reforma monetária de 1948 acelerou retomada na República Federal da Alemanha
Em 13 de agosto de 1961 os alemães acordaram para ver Berlim separada por um muro. Para conter as fugas para a República Federal da Alemanha (capitalista), a Republica Democrática Alemã (socialista) havia fechado as fronteiras setoriais entre Berlim Oriental (RDA) e Ocidental (RFA) e construído um muro.
.jpg)
Com quatro metros de altura e 40 quilômetros de extensão, a estrutura era equipada com dispositivos anti fuga que incluíam guaritas de vigilância, cães treinados, redes eletrificadas com alarmes, fosso, campos minados e metralhadoras que disparavam automaticamente. Aos soldados da RDA foi dada a ordem de atirar em qualquer pessoa que tentasse realizar travessia não autorizada para o lado capitalista..
.jpg)
Manifestante golpeia o Muro de Berlim, enquanto guardas da fronteira da Alemanha Oriental olham a cena de cima. Portão de Brandemburgo, Berlim, Alemanha, 11/11/1989. David Brauchli/REUTERS
Mas, antes da ostensiva barreira física, derrubada em 9 de novembro de 1989, separar Berlim, uma separação econômica marcou o início da história da Alemanha divida, a reforma monetária de 1948.
O país - divido em quatro setores depois da Segunda Guerra Mundial três sob comando das potências ocidentais, Estados Unidos, Inglaterra e França, e um sob controle da União Soviética - vivia as privações do pós-guerra. Com a economia em frangalhos, os alemães sofriam com altíssimas taxas de desemprego, crises de abastecimentodes e valorização monetária.
O marco alemão.Um plano econômico foi desenvolvido para fazer com que os bons ventos e dólares do Plano Marshall (plano de ajuda americano para a reconstrução dos países aliados no pós-guerra) começassem a soprar sobre Alemanha Ocidental. O primeiro passo foi dado em 20 de junho de 1948, com a adoção de uma nova moeda, o 'deutschmark'. O marco alemão, cunhado nos EUA, foi distribuído à população da parte ocidental nos guichês onde se recebiam cupons de alimentação. Cada cidadão recebeu exatos 40 marcos, a data é lembrada como o dia em que todos foram igualmente ricos e pobres. No dia seguinte, um cenário cuidadosamente esculpido pela economia planificada se apresentou diante dos alemães da RFA, mercados com prateleiras cheias à disposição do poder de compra da nova moeda.
Bloqueio de Berlim. A reação soviética veio em poucos dias. O marco alemão oriental foi implantado e em 24 de junho de 1948 e um bloqueio foi erguido sobre Berlim, que se situava dentro das fronteiras do setor russo. Numa das mais graves tensões do período da Guerra -Fria, a URSS cortou as comunicações terrestres e fluviais para a cidade. O bloqueio, que durou quase um ano, foi contornado pelas potências ocidentais com ponte aéreas que levaram suprimentos aos cidadãos de Berlim Ocidental. No dia em que o bloqueio começou, o Estado publicou uma análise sobre seu impacto para a transição econômica da RFA :“a experiência tentada hoje é sem dúvida única no gênero, em qualquer parte do mundo. Desde logo os meios econômicos berlinenses declaram que a possibilidade de o marco ocidental manter-se em Berlim, onde será combatido pelo marco oriental, dependerá do seu poder aquisitivo efetivo, ou seja, em última instância, do abastecimento da cidade em produtos alimentares e manufaturados. O marco que melhor servir para comprar vencerá essa luta em Berlim.” A análise manteve-se assertiva até a reunificação da Alemanha em 1990. Os anos seguintes da economia alemã seriam orientados por essa máxima. Um mês após a reforma monetária, a Alemanha Ocidental, capitaneada pelos esforços do Diretor de Economia pelo Conselho Econômico Bizonal, Ludwig Erhard _que mais tarde, em 1963, se tornou chanceler da RFA- adotou uma medida arriscada. Aboliu o racionamento de comida e pôs fim ao controle da produção e dos preços, uma guinada na estrutura econômica que vigorava desde os anos do Reich. Erhard acreditava que o mercado se autoregularia. Ele afirmava que único cupom de racionamento que as pessoas precisariam seria a própria moeda e que os alemães trabalhariam duro para obtê-la.
O milagre econômico. O risco valeu a pena. O Estado de 1955, já contava que em cinco anos a Alemanha Ocidental havia mais que dobrado sua produtividade industrial e obtido apreciáveis resultados na agricultura, o artigo dizia “as exportações não cessaram de aumentar e, a despeito da entrada permanente de refugiados em seu território a República Federal encontra-se praticamente na situação de pleno emprego”. O pleno emprego foi atingido no final da década de 1960, período em que o 'Wirtschaftswunder', milagre econômico alemão, floresceu. Nem um muro conseguiu conter a força atrativa da prosperidade econômica da Alemanha Ocidental.
Veja também:
# Siga: twitter@estadaoacervo | facebook/arquivoestadao | Instagram | # Assine
Comentários
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.