Nazismo no discurso de Roberto Alvim vai além da citação a Goebbels
Edmundo Leite e Liz Batista - Acervo Estadão
17/01/2020 | 17h45   
Ex-secretário especial de Cultura de Bolsonaro usou várias premissas nazistas em pronunciamento
As semelhanças com os ideais nazistas no discurso do ex-secretário especial de Cultura Roberto Alvim vão além da citação quase literal que ele fez de uma fala de Joeseph Goebbels, o ministro da Propaganda de Adolf Hitler. Desde o início, quando fala no pedido do presidente Jair Bolsonaro para que "faça uma cultura que não destrua, mas que salve a nossa juventude", o discurso de Alvim ecoa os princípios nazistas: "A cultura é a base da pátria. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. E é por isso que queremos uma cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes" [leia a íntegra do discurso de Roberto Alvim].
O conteúdo do discurso de Alvim é semelhante a várias falas de Goebbels e do próprio Hitler sobre cultura, como mostram algumas notícias publicadas pelo jornal nos anos 30, época da ascensão e da consolidação do regime nazista na Alemanha.
Íntegra do discurso de Roberto Alvim
Olá, meus amigos, eu sou Roberto Alvim, Secretário Especial da Cultura do governo do presidente Jair Bolsonaro. Eu venho falar à vocês sobre um assunto muito importante. Quando eu assumi esse cargo em novembro de 2019, o Presidente me fez um pedido. Ele pediu que eu faça uma cultura que não destrua, mas que salve a nossa juventude. A cultura é a base da pátria. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. E é por isso que queremos uma cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo, enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes.
A Pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus, amparam nossas ações na criação de políticas públicas. As virtudes da fé, da lealdade, do auto sacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de arte. Nossos valores culturais também conferem grande importância à harmonia dos brasileiros com a sua terra e sua natureza. Assim como enfatizam a elevação da nação e do povo, acima de mesquinhos interesses particulares. A cultura não pode ficar alheia às imensas transformações intelectuais e políticas que estamos vivendo.
A arte brasileira da próxima década, será heróica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo - ou então não será nada. Ao país a que servimos, só interessa uma arte que cria a sua própria qualidade a partir da nacionalidade plena, e que tem significado constitutivo para o povo para o qual é criada. Portanto, almejamos uma nova arte nacional, capaz de encarnar simbolicamente os anseios desta imensa maioria da população brasileira, com artistas dotados de sensibilidade e formação intelectual, capazes de olhar fundo e perceber os movimentos que brotam do coração do Brasil, transformando-os em poderosas formas estéticas.
São essas formas estéticas geradas por uma arte nacional que agora começará a se desenhar, que terão o poder de nos conferir a todos, energia e impulso para avançarmos na direção da construção de uma nova e pujante civilização brasileira. É neste espírito que o governo federal tem o orgulho de lançar os seguintes prêmios nacionais de fomento às Artes... [ narração dos prêmios para a área cultural]
O Prêmio Nacional das artes gerará milhares de empregos, assim como uma ampla capacitação profissional e formação de público. Configurando um panorama das maiores realizações artísticas oriundas das cinco regiões do Brasil. Trata-se de um marco histórico nas artes brasileiras de relevância imensurável, e sua implementação e perpetuação ao longo dos próximos anos, irá redefinir a qualidade da produção cultural em nosso país. E é por tudo isso que afirmo a vocês, meus amigos, 2020 será o ano de uma virada histórica. 2020 será o ano do renascimento da arte e da cultura no Brasil. Muito obrigado.
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