Rei Momo, corso e lança-perfume: o clima do carnaval dos anos 1930
Cristal da Rocha - O Estado de S.Paulo
21/02/2020 | 16h28   
O carnaval que estava nos bailes, nas ruas também estava no Suplemento em Rotogravura do Estadão
"Vocês não estão sentindo um cheiro embriagador de ether? Não veem o céu riscado de serpentinas, pulverisado por uma chuva polichroma de 'confetti'? Não ouvem por ahi fóra um clamor de vozes? Um guizalhar de pandeiros? Uns guichos de instrumentos de sopro? Um fino toque de clarins? Pois isso é o Carnaval."
O rei Momo que chega, os intinerários dos corsos, os blocos desfilando no triângulo central, os bumbos dos 'Zé Pereira', os vendedores ambulantes com o estoque garantido de lança-perfume e fantasias e o comércio aproveitando para vender serviços e produtos para antes de depois da festa. Veja abaixo o clima do carnaval dos anos 1930 que estava nos bailes, nas ruas e nas páginas do Suplemento em Rotogravura do Estadão.
A página da edição em fevereiro de 1937 (acima), ilustrada por Moura, descrevia os agitados dias de carnaval que estavam para começar em São Paulo, o movimento das pessoas vindas de outros Estados para prestigiar as cores e a festa e de todas as partes da cidade:
"Vocês não estão sentindo um cheiro embriagador de ether? Não veem o céu riscado de serpentinas, pulverisado por uma chuva polichroma de 'confetti'? Não ouvem por ahi fóra um clamor de vozes? Um guizalhar de pandeiros? Uns guichos de instrumentos de sopro? Um fino toque de clarins? Pois isso é o Carnaval. É Momo que chega, com corte luzida; é a cidade que se movimenta em corsos, blocos, cordões, grupos, carros carnavalescos, mascaras avulsas, o diabo a quatro. Por toda parte alastra-se um colorido commercio de quinquilharias carnavalescas. Pelas pontas há dominós enforcados, à espera de compradores; montes de mascaras, cylindros de serpentinas, saccos de “confetti”, caixinhas sobrepostas de lança-perfumes. Tudo é sonoro, colorido, perfumado, estonteante. A multidão chega dos outros Estados para ver o carnaval de São Paulo; chega do interior e do litoral, chega dos suburbios e dos bairros, chega de toda parte. Forma-se um buliçoso mar de gente. Cabeças com chapéus e chapéus sem cabeças. A avenida São João e o triangulo central, dentro de pouco, estarão tomados. Uma fileira immensa de automoveis circulará pela cidade, entre espirros das serpentinas e a chuva torrencial dos “confetti”. As janellas que abrem sobre o centro estarão repletas de famílias. As “ruas do itinerario” dos carros allegoricos estarão tomadas pela multidão. Evohé Momo. Você me conhece? Não me belisque, seu malcriado. Mil phrases dispersas, perdidas no clamor, passarão pelos nossos ouvidos aurados de barulho. Mil quadros grotescos desfilarão diante de nossos olhos aturdidos pelo movimento incessante das ruas. Mil impressões disparelhadas desfilarão pela nossa intelligencia obnubilada pela vertigem dos contrastes. E isso será o Carnaval, o Carnaval de S. Paulo"
Anúncios na edição da Rotogravura em 1939 apresentavam os hits musicais, ofertas de bebidas, bailes em clubes:
Zé Pereira em destaque na edição de 1939:
Confira galeria com imagens da folia antigamente:
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Tag: Carnaval
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