O dia em que Fidel Castro chegou ao poder em Cuba
Liz Batista
26/11/2016 | 07h09   
Oito dias depois da queda de Batista, Fidel entrou vitorioso em Havana
Oito dias após a queda de Batista, as ruas voltaram a enviar outra mensagem.
Em 08 de janeiro de 1959, mostraram ao mundo quem era a figura que incorporava as esperanças e promessas de um futuro mais justo abraçadas pela revolução. Naquele dia, os cubanos reconheceram Fidel Castro como seu libertador. Sua entrada triunfante em Havana, e a comoção gerada por sua presença o confirmaram como herói máximo da revolução. A grandiosa expressão popular investiu de autoridade o líder rebelde e tornou indissociável da figura de Fidel o destino da revolução e do país. Na manchete do Estado, o reflexo das ruas de Havana: “Castro aparece como único líder em Cuba”O Estado de S.Paulo, 09/01/1959
Fidel e o presidente Urrutia falam à população em Havana, 08/01/1959. Foto: AP
“Ás 3:30 da tarde Fidel Castro surgiu em uma das sacadas do palácio, exatamente a mesma onde o general Batista fazia suas aparições.”
Multidão reunida em frente ao palácio presidencial para ver o líder rebelde Fidel Castro, em 08/01/1959. Foto: AP
Com títulos como “Fidel Castro recebido em triunfo na capital cubana” o Estado noticiou, na edição de 09 de janeiro de 1959, o momento vivido na ilha. Descreveu a delirantemente aclamação que acompanhou toda a marcha de Castro pela capital ,“o líder da revolução cubana, Fidel Castro, que desalojou do poder o ditador Fulgencio Batista, entrou, hoje, triunfalmente, em Havana por entre as salvas de artilharia e grandes ovações populares”, publicou o jornal. Das ruas, das sacadas, dos carros, de todos os cantos de Havana o povo saldava Castro..
O Estado de S.Paulo, 09/01/1959
Depois dos festejos, o mundo começou a conjecturar sobre o destino de Cuba. Todos tinham vivas na lembrança as promessa da revolução, muitas transmitidas pelas ondas da rádio rebelde de Sierra Maestra. Em 11 dezembro de 1958, quando a revolução ganhava terreno, os cubanos ouviram, através das ondas da emissora, Fidel anunciar o próximo estabelecimento de "um governo livre".
Mas, com o tempo, a ausência de estruturas políticas e institucionais e que se identificassem com as dos demais governos democráticos na Cuba pós-revolução tornou-se cada vez mais claro. Antigos apoiadores do movimento começavam a fazer críticas ao governo de Havana, criticando a demora na convocação de eleições e a prática de fuzilamentos. Alguns diziam que Cuba, por não ter experimentado em toda sua história um governo republicano verdadeiramente livre, contava com poucas bases para a pronta instalação de um regime democrático. Em matérias e editoriais o Estado discutiu a situação cubana. O jornal lembrou um pouco da história do país, disse que Cuba havia sido "palco de uma sucessão ininterrupta de movimentos revolucionários” e questionou se “a nobre nação estará em condições de exercer o 'self-government'”, ou se, pelo contrario, a provável elevação de Fidel Castro à suprema magistratura, em futuro próximo, não passará de mais uma tentativa frustrada de estabelecer no país um regime alicerçado na vontade popular?”
População comemora a vitória do movimento rebelde e saúdam seus heróis, em 02/01/1959. Foto: AP
Sobre Fidel, o jornal escreveu que ele era a “figura que corporalizou os seus anseios de liberdade, erguendo o estandarte da revolta contra a tirania (...) o ponto de aglutinação em torno do qual se reuniram todos aqueles que não se conformavam com a extrema abjeção a que o caudilho (Fulgencio Batista) reduzira o Estado (...) a influência insuspeitada nos destinos do país, não apenas por haver ganhado a guerra contra Batista, mas também porque os partidos políticos necessitarão de muito tempo para formar figuras de prestígio que se lhe possam opor.”
No editorial de 03 de janeiro de 1959, o jornal exaltou o processo político que tomou conta do país e expôs suas incertezas, “Cuba é um exemplo. A queda de Batista veio trazer-nos uma viva satisfação e um grande alívio. Mas, não ficamos tranquilos. Por quanto tempo gozará o povo irmão das Caraíbas de um regime de liberdade e de paz social?"
O Estado de S.Paulo, 30 de abril de 1961
Os meses que seguiram, entre eles os 18 meses prometidos como prazo para a convocação de eleições diretas, se transformaram em anos e começaram a sinalizar a resposta.
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