Prédios perdem janela-camarote com novo estádio do Palmeiras

Carlos Eduardo Entini

18/11/2014 | 17h35   

Por mais de 50 anos, vizinhos assistiram jogos e shows pelas sacadas e janelas

A inauguração do Allianz Parque no dia 19 de novembro é o começo de uma nova era para o Palmeiras e o fim de uma para os moradores dos edifícios Palmeiras e Alviverde. Os edifícios colados ao clube foram construídos para terem vista total às dependências do Palmeiras e para o antigo Parque Antártica. Durante décadas foram verdadeiros camarotes.

 

Antiga vista da janela de Lisete Coelho moradora do 12º andar do edifício Alviverde e atual.. Foto: Acervo pessoal

 Esse era o apelo de venda do Edifício Palmeiras publicado no 'Estado' em 6 de outubro de 1957. “É o edifício ideal para os que gostam de morar bem e apreciam os prazeres do esporte e da vida ao ar livre: da sacada de seus apartamentos, V. Domina tôda a praça de esporte do Parque Antárctica com o verde grupo de piscinas a seus pés”. De quebra, quem adquirisse um apartamento receberia “inteiramente grátis, um título de Sócio Família da S.E. Palmeiras”. 

O Estado de S. Paulo - 6/10/1957

 

Realmente, tanto o edifício Palmeiras, inaugurado em 1959, e o Alviverde, em 1962, foram erguidos para privilegiar a relação com o clube. Tanto que “foram construídos ao contrário”, observa Elisete Coelho, moradora há mais de 20 anos do Alviverde. Isto é, os quartos e sala estão voltados para o clube, e a parte que dá para a rua é da área de serviço.

O edifício Alviverde com 13 andares tem 52 unidades, mas só as do quarto andar para cima possuem a visão do campo. Portanto, foram 40 unidades que durante mais de 50 anos aproveitaram do camarote que teve fim em maio de 2010, quando o Palmeiras fez seu último jogo no Palestra Itália. O Palestra Itália foi inaugurado em 1954, veja imagem abaixo.

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Dificilmente alguém se beneficiou tanto da vista do campo do Palmeiras como o casal Helena Contador Landucci e Laerte Landucci. Logo que se casaram em 1959 foram morar no recém-construído edifício Palmeiras. Pouco depois, em 1962, se mudaram para o quinto andar do edifício vizinho, o Alviverde, onde estão até hoje. Laerte é testemunha de todas as mudanças do clube. Onde se vê as piscinas nada mais era do que um terrão, as arquibancadas eram de madeira, lembra Laerte. Foram 51 anos de festa com amigos e familiares compartilhando suas janelas e sacada nos dias de jogos do Palmeiras e shows.

Segundo Helena, as confraternizações deixarão saudades, muito mais do que o privilégio de ver os jogos da janela. “Dá saudade mais pela reunião, vinha corintiano, santista, era sortido”. O casal que já recebeu mais de 15 pessoas em seu apartamento, chegou a colocar escadas nas janelas para acomodar os convidados. “Ficou como uma arquibancada”, conta Laerte.

Mas os moradores não só se beneficiaram de jogos. O parque Antártica foi palco de grandes shows, nacionais e internacionais, como Legião Urbana, RPM, Ozzy Osborne, Iron Maiden, A-Ha, Evanescence, David Bowie, o Show da Anistia em 1988 - que reuniu estrelas do rock como Peter Gabriel, Bruce Springsteen, Sting e Tracy Chapman e diversos outros.

Quem imagina que para morar nos edifícios Palmeiras e Alviverde necessariamente devem ser torcedores do Palmeiras se engana. É claro que os palmeirenses predominam, mas lá também moram torcedores de outros clubes. E nunca houve um ato de hostilidade entre eles. Alguns gritos e xingamentos e rojões saíram das janelas no calor dos jogos quando o Palmeiras levava um gol. Mas ficou por aí. Depois daquelas 'duas horinhas', assim se referem os moradores sobre os dias de jogo, tudo voltava ao normal.

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