A decisão do príncipe Harry de renunciar a suas funções oficiais e seu papel de membro senior da família real britânica só encontra precedente na história do irmão de seu bisavô, o rei Edward VIII. Em 1936, o então rei da Inglaterra não contava um ano de reinado, quando decidiu abandonar a mais importante coroa do mundo para casar-se com uma norte-americana divorciada, a Sra. Wallis Simpson. A abdicação aconteceu em 10 de dezembro de 1936 e foi comunicada em cadeia nacional no dia seguinte.

Um escândalo de enormes proporções, a escolha amorosa de Edward VIII era incompatível com os deveres impostos a um monarca inglês, que além de rei do Reino Unido e do Commonwealth, também era imperador da Índia e Governador Supremo da Igreja da Inglaterra, que não reconhecia um novo casamento após o divórcio. Na época, o fato de Wallis ser uma plebeia já causava certo desconforto, mas o fato de ser divorciada constituía o maior impedimento à união.

 

As duas histórias guardam pontos em comum; assim como Wallis, a atriz Meghan Markle era uma plebeia norte-americana divorciada; mas guardam também certa distância. Enquanto o príncipe Harry é o sexto na linha de sucessão do trono, Edward, então príncipe de Gales, era o herdeiro direto do rei  Jorge V, tataravô de Harry.  Com a morte do pai, Edward tornou-se rei em 20 de janeiro de 1936.

Para Harry e Meghan o fato dela ser divorciada não foi um empecilho, tão pouco o fato de ser uma plebeia. Seu irmão, príncipe William - 2º na linha de sucessão e com mais chances de um dia se tornar rei - já havia quebrado a tradição do casamento entre pares de sangue-azul e detentores de títulos de realeza, em 29 de abril de 2011, ao casar-se com Kate Midelton, hoje duquesa de Cambridge. 

Megxit x Wallxit. Entre as semelhança, outras coincidências se somam. Harry é hoje um membro querido da família real inglesa, Edward  também foi um príncipe muito popular entre os súditos. Tanto Edward quanto Harry fizeram carreira militar e conquistaram o respeito dos seus pares nas  forças armadas - Harry participou de missões da Força Aérea Britânica na guerra do Afeganistão. Edward combateu durante a Primeira Guerra Mundial e foi uma figura histórica de reconhecida importância para o moral das tropas, durante o conflito.

 

Ambos sofreram com o assédio e especulação da mídia inglesa e viram suas amadas serem escolhidas como grandes vilãs nas tramas que marcam as separações dentro da Casa de Windsor. Boatos, como uma possível gravidez da Sra. Simpson, eram habituais em 1936. Como mostra uma nota publicada no Estadão desmentindo o fato. No auge da crise, manifestantes chegaram a quebrar os vidros da casa onde Wallis morava.

 

Assim como Harry é hoje acusado de desfrutar das benesses de sua posição e rechaça obrigações que lhe são inconvenientes, David também foi criticado durante a crise que levou à sua abdicação.

David,  assim como Harry,  viu a mídia enaltecer a estrutura familiar de seu irmão, George VI, pai da rainha Elizabeth, ao passo em que sua esposa e seu estilo de vida acumulavam críticas. 

 

Edward e Wallis casaram-se em 3 de junho de 1937 e permaneceram casados por 34 anos até a morte de Edward em 5 de junho de 1972. Wallis faleceu em  1986.

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