Rio Tietê é destino de esgoto há mais de um século
Carlos Eduardo Entini
15/10/2012 | 17h55   
Em 1898, pesquisa comprovou que o rio era um perigo iminente para a saúde
“Achamos, pois, que a água do rio Tieté não deve ser lançada ao consumo publico, visto que a hygiene ficaria privada de um de seus melhores recursos: a agua pura, isempta de micro-organismos suspeitos. A agua do rio Tieté constituiria sempre um perigo eminente”. A não ser pela grafia, a notícia de 1898 sobre o despejo de esgoto caberia perfeitamente nos dias de hoje. E sustentaria a tese do Ministério Público paulista que pede R$11,5 bi da Sabesp por lançar esgoto sem tratamento nos rios e represas da Região Metropolitana.
Mesmo retificado, o rio continuou ocupando as margens em tempos de chuva. Foto: Arquivo/AE
A matéria publicada no Estado em 17 de outubro daquele ano descrevia o resultado da pesquisa feita pelo Instituto Bacteriológico. A pesquisa analisou amostras colhidas de um rio “sujeito à contaminação de toda a espécie: recebe aguas servidas, dejecções de homens e animaes, nas margens encontram-se lavadeiras e tudo isso colloca a agua deste rio em condições perigosas”.
Apesar das obras para tratar o esgoto ocorridas nos últimos anos, a poluição da parte do Tietê que corta a cidade de São Paulo persiste. O que mudou efetivamente foram as redondezas do rio. A várzea da parte baixa de São Paulo, como a região é chamada tecnicamente, começou a ser saneada ainda no final do século 19. Depois de aterrada, foi ocupada, juntamente com as do Tamanduateí e do Pinheiros.
O curso do Tietê foi retificado, os 46 quilômetros sinuosos e naturais, entre Guarulhos e Osasco, foram reduzidos a 27. O projeto de aterramento e a retificação não respeitou as margens naturais, e em tempos de cheia e continuaram os alagamentos, intensificados cada vez mais que a cidade se tornava impermeável. Na década de 70 além do esgoto e da água, às suas margens também foram despejados os carros com a inauguração das pistas.
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